No início deste ano eleitoral – quando as tratativas em torno da formação das chapas que disputarão as eleições municipais em outubro estão ocorrendo – o nome da vereadora Maryanne Mattos é sempre lembrado, caso o seu PL coligue e indique um nome para compor como vice na chapa de reeleição do prefeito Topázio Neto (PSD).
Nesses dias de recesso das sessões no Legislativo da Capital ela nos recebeu no seu Gabinete na Câmara para conceder uma entrevista exclusiva. Informou que a agenda está corrida, apesar do recesso, pois está alternando a agenda da Câmara com atividades da Guarda Municipal, onde é servidora efetiva e voltou à ativa neste início de ano.
Veja abaixo a entrevista, onde a vereadora fala sobre seus projetos na Câmara Municipal, sobre a problemática dos moradores em situação de Rua na Capital, além de abordar as articulações entre o seu PL e o prefeito Topázio Neto.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
ADRIANO RIBEIRO – Após seus três primeiros anos de mandato aqui na Câmara qual sua avaliação? Conseguiu tirar do papel suas idéias?
MARYANNE – A minha avaliação é muito positiva. Confesso que tinha certo preconceito. Por 19 anos sou servidora pública da prefeitura (GMF) e por isso vivi muito o Poder Executivo. A minha intenção de ocupar esse espaço se deu porque sei que aqui se influencia muito o serviço da ponta lá do servidor público. Aqui se tomam decisões para o serviço público fluir. Minha intenção aqui é melhorar a qualidade do serviço público. Mas, eu tinha certo preconceito por não saber o que um vereador faz. Até onde vai o poder do vereador? Quando eu estava do outro lado, só via vereador pedindo um monte de coisa. Quando me tornei vereadora, vi que é muito mais. Passei a ter uma admiração pelo Poder Legislativo. Sei agora quanto ele pode fazer fluir a questão da fiscalização; na cobrança do Poder Executivo; na solicitação para que as coisas sejam feitas, mas também para denunciar o que esteja errado ou cobrar que a prefeitura arrume alguma coisa. Então, passei a ter certa admiração que não sabia que existia.
ADRIANO RIBEIRO – É uma forma de melhorar as coisas com novas possibilidades e dentro da lei…
MARYANNE – Exatamente, dentro da lei. Por exemplo, quando assumi aqui, comecei receber um monte de denuncia, naquela época da pandemia, de que as escolas iriam abrir sem máscara, sem álcool em gel, sem proteção. Pensei, vou fiscalizar! Quando cheguei às escolas para fiscalizar esse problema, percebi que isso tudo tinha, mas as escolas não estavam prontas para receber as crianças, com parquinho quebrado, com mato até em cima. Poxa, dois anos fechado e não fizeram uma reforma nas escolas. A partir dai comecei a fiscalizar todas as escolas e ver se realmente estavam adequadas para receber nossas crianças. Nesse ponto vi que o poder público começou a se preocupar também com isso. Foi então que vi que a cobrança de um vereador tem um poder muito grande, em relação à cobrança de alguém que não tem mandato. Assim, passei a usar esse poder que a gente tem, para que a coisa funcionasse.
“Tenho um projeto que é um sonho, que é terminar com a caixinha de som nas praias. Quero aprovar esse projeto… …vejo muita adesão das pessoas à idéia. Florianópolis, como Capital, deveria tomar essa atitude”
ADRIANO RIBEIRO – O teu posicionamento aqui na Câmara é mais pró-governo. Você consegue exercer esse papel mais fiscalizatório nesse cenário?
MARYANNE – Nos dois primeiros anos eu fui oposição ao governo que estava. Mas não oposição ao serviço do Poder Executivo. Fui oposição a algumas linhas políticas e ideológicas que a prefeitura estava tomando. Inclusive na questão do fecha tudo, chegou uma hora que pensei: perai, as pessoas precisam ganhar dinheiro, precisam trabalhar. Fui oposição, mas nunca uma oposição cega. Mesmo sendo oposição ao governante da época eu me colocava favorável em projetos que entendia que eram bons para a cidade. Agora, quando mudou a figura do gestor e vi que mudou a forma de tratar as pautas dentro da prefeitura; a forma de lidar com o servidor público; começou a se ter mais diálogo e mais respeito; nós sentamos e conversamos e eu disse: ‘OK, eu posso ser base do governo’. Mas, não vou deixar de fiscalizar também. Só que hoje, como tenho abertura ao diálogo, coisa que não tinha naquela época, fica mais fácil. Quando recebe uma denuncia, esse governo vai verificar a denuncia e se tem fundamento vai responder, vai resolver. Essa diferença que vejo na gestão, que entendo que é muito saudável para a política.
ADRIANO RIBEIRO – Pegando esse teu gancho da linha de governo, onde você acha que Florianópolis errou na questão dos moradores em situação de rua?
MARYANNE – É um problema social e mundial. Vejo que Florianópolis não errou, nem nessa gestão nem na gestão passada que fui oposição. Mas é bom lembrar que também fui Secretária de Segurança daquele Governo que passou. Por isso posso afirmar que Florianópolis cumpre toda a cartilha dada pelo Governo Federal na parte de política de atenção às pessoas em situação de rua, em relação ao fornecimento do alimento ou abrigo ou encaminhamentos. Florianópolis tem essas políticas sociais. O problema hoje, que vejo não só daqui, mas em todos os municípios, é que a gente depende de a pessoa em situação de rua aceitar o encaminhamento. Eu acho um erro.
ADRIANO RIBEIRO – E qual seria a solução?
MARYANNE – Sou a favor da questão compulsória. A pessoa viciada em drogas, ou com problema de saúde, não tem condição de escolher o que é bom pra vida dela. Então, precisa que alguém escolha. Tanto que quando alguém tem um parente, um familiar que usa droga, a família tem que pedir pra internar e a família pode fazer isso. Sou a favor que o poder público possa ter esse poder e assim ajudar as pessoas dessa forma. Assim, é possível ir separando aqueles que precisam de tratamento, aqueles com problemas de saúde, aqueles que devem ser encaminhados para o sistema prisional porque têm mandado de prisão em aberto e assim por diante. Não podemos achar normal essas pessoas dormindo na rua sem dignidade humana. Mas hoje, o poder público fica de mãos amarradas por não ter segurança jurídica para fazer algo mais impositivo, em função dessa política que acontece no mundo todo, de passar mão na cabeça de quem está na rua. Quem está refém de tudo isso é a população que trabalha, que estuda. Tivemos o assassinato de um jovem no Largo da Alfândega, que é um absurdo… …mais uma mulher foi espancada. Está errada essa legislação federal que se um prefeito tomar uma atitude mais ríspida é capaz de ele ir preso.
ADRIANO RIBEIRO – Realmente, não há segurança jurídica…
MARYANNE – Eu vi a vontade da gestão passada em resolver, nisso tenho que ser justa. Fui secretária e me vi de fato com as mãos amarradas. E tem mais uma coisa: como Florianópolis tem todas as políticas públicas, outros municípios acabam incentivando para que esse público venha para cá. Só que dai aumenta aqui e nosso recurso é finito também. É um problema, como filtrar a entrada dessas pessoas aqui e poder encaminhar elas para os municípios de origem delas? Isso porque o recurso que Florianópolis tem é pra tratar as pessoas de Florianópolis. Acho que isso é um problemão que não vejo uma solução. Só vejo solução, por exemplo, com internação involuntária.
“Sou muito tranqüila com o caminho que o PL for seguir. Eu vou estar no barco do PL. Se como um nome que o governador vai indicar para vice, com muita honra e alegria. Se para a reeleição como vereadora, também com muita honra e alegria, porque o projeto é um só: fazer a política séria”
ADRIANO RIBEIRO – Vamos pra parte política. Existe uma possibilidade de o PL compor com o governo Topázio. Como estão esses encaminhamentos, a senhora tem participado?
MARYANNE – Tenho participado. Sou vice-presidente da Executiva Municipal, inclusive estamos fazendo reuniões semanais. A forma de o Topázio fazer gestão é uma forma muito parecida com a que o nosso governador faz. Ou seja, de resolver problema, de não enrolar, de estar presente, de dar cara a tapa quando tem um problema, de ir lá e assumir a sua responsabilidade enquanto gestor. Por isso, existe sim uma aproximação. O governador Jorginho Mello tem colocado recursos em obras estruturantes aqui em Florianópolis. Citamos por exemplo a questão da Lagoa; das rodovias SCs, onde a prefeitura pode receber o recurso do Estado para tocar as obras; o alargamento de praia no Norte da Ilha. Então, tudo isso mostra uma parceria do Governo do Estado e a prefeitura. Na questão política também existe uma possibilidade. Como o próprio Filipe Mello colocou na entrevista que ele deu: existe a possibilidade de o PL lançar um candidato próprio, pois temos musculatura para isso, mas, se for para compor, em função da aproximação de gestão, seria com o Topázio.
“Dentro do PL é uma construção de partido, onde o nosso governador vai traçar o caminho que a gente vai seguir”
ADRIANO RIBEIRO – Mas a senhora concorda que teria que analisar isso pelo aspecto político, pois PL e PSD estão em lados opostos em nível de Estado…
MARYANNE – Acho que Florianópolis é o único município que se conversam. Na política a gente não pode fechar portas. Agora é uma questão municipal. É uma eleição completamente diferente de uma eleição estadual e federal. No município são pessoas, é uma afinidade local. Em Florianópolis tanto o PSD quanto o PL, têm feito uma gestão muito próxima e vemos num movimento tanto do Governo do Estado quanto do municipal essa proximidade de ajuda para resolver problemas. Faz um bom tempo que Florianópolis não tinha essa aproximação do Executivo estadual com o municipal, de uma forma tão saudável.
ADRIANO RIBEIRO – O seu nome é sempre lembrado para uma possível composição de chapa, na condição de vice do prefeito Topázio. Como a senhora recebe esses movimento?
MARYANNE – Primeiro que fico muito lisonjeada. Para mim é uma honra saber que o meu nome é lembrado. A primeira vez que vi sobre uma possibilidade de vice foi uma surpresa, até me arrepia. Fico muito feliz desse reconhecimento, porque é uma responsabilidade muito grande. Dentro do PL é uma construção de partido, onde o nosso governador vai traçar o caminho que a gente vai seguir. Ele sabe que não só meu nome como de todos do partido, vão estar à disposição para o projeto que ele for construir. Tenho um carinho gigante pelo PL. Sou a presidente do PL Mulher, a vice-presidente da Executiva Municipal. O nosso presidente Heleno é um querido, tem o Bruno e o Filipe Mello, enfim, é uma família. Estamos sempre conversando e à disposição. Sou muito tranqüila com o caminho que o PL for seguir. Eu vou estar no barco do PL. Se como um nome que o governador vai indicar para vice, com muita honra e alegria. Se para a reeleição como vereadora, também com muita honra e alegria, porque o projeto é um só: fazer a política séria. Penso que o nosso governador nunca perdeu uma eleição, desde que começou a concorrer. O homem sabe fazer política, montar uma estratégia e ver o futuro e por isso confio muito no caminho que o governador tomar. Fico feliz em saber que o meu nome é um dos possíveis, mais sei que aquele que ele escolher é o nome ideal para o projeto político do PL municipal e já pensando para o projeto estadual.
ADRIANO RIBEIRO – Para fechar, nesse último ano de mandato, quais suas prioridades?
MARYANNE – Tenho um projeto que é um sonho, que é terminar com as caixinhas de som nas praias. Quero aprovar esse projeto de proibição das caixinhas de som nas praias. Na temporada passada tentei, mas foi arquivado. Acho que os vereadores ficaram com medo de entrar nessa polêmica. Mas vejo muita adesão das pessoas à idéia. Florianópolis, como Capital, deveria tomar essa atitude.
ADRIANO RIBEIRO – Mas está tramitando novamente o projeto?
MARYANNE – Eu reapresentei o projeto no início do ano passado, em função de toda a alteração das comissões técnicas. Na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) a gente aprovou, na Comissão de Segurança, Direito do Consumidor e Direito Humano a gente aprovou, na Comissão de Educação a vereadora Tânia deu voto contrário e os vereadores seguiram o voto dela e agora vai para plenário. Está pronto para ir à votação em plenário. Vou tentar construir com nosso presidente para pelo menos colocar em votação e a gente ter uma decisão se vai virar lei ou não. E, se não virar, vou protocolar de novo se eu for reeleita para novo mandato a partir do ano que vem.