Os limites entre o biológico e o artificial, as memórias corporais transmasculinas em expansão e as complexidades e subjetividades queer ganham linguagem artística em “Transição: Expansão”, da artista visual alagoana bruCa teiXeira, que chega pela primeira vez à capital catarinense. Sua agenda inclui também uma oficina dirigida, em execução.
A exposição da doutoranda em artes visuais pela UnB (Universidade de Brasília), cineasta e pesquisadora estreia nesta terça-feira, dia 12, das 16h às 18h, no Memorial Meyer Filho, no Centro Histórico de Florianópolis.
Entre os múltiplos títulos, bruCa, que também é bióloga marinha, profissão que exerceu por quase 20 anos, também é indicada também ao Prêmio Pipa 2025, o maior do cenário brasileiro destinado a revelar e valorizar os artistas visuais.
A artista costuma dizer que habita a dobra entre a lesbianidade e a transmasculinidade como uma zona ecológica viva. E atualmente documenta as suas próprias transformações corporais com a mamoplastia e hormonização como parte de um fazer artístico. Nascida em 1982, ela vive e trabalha entre sua terra natal, Maceió (AL) e Brasília, como doutoranda em artes visuais na Unb (Universidade de Brasília.
Com curadoria de Fran Favero, que a convidou para mostrar seu trabalho na capital catarinense, a mostra reúne linguagens artísticas múltiplas e híbridas, onde a artista conecta arte, ciência e tecnologia, propondo uma linguagem toda própria. Nela, bruCa traduz as vivências de um corpo que recusa categorias pré-determinadas e propõe seu próprio percurso, marcado por intervenções, despedidas e ampliações.
“Se as existências queer são invisibilizadas, a resistência se apresenta em forma de infiltração, fluidez, escuta, subtração, estremecimento, amassamento, em um expansão do que um corpo pode e deseja ser”, destaca. “Nunca me interessou em dizer que sou um homem trans”, revela a artista, que conseguiu dar leveza e transformar a mamografia espontânea a que se submeteu em arte.
Muito afinada com o visual, a artista nascida Bruna acabou adotando o nome artístico de um apelido dado por amigos. E optou por uma grafia diferenciada que, segundo ela, não tem nenhum significado maior do que o fato de gostar de brincar e intercalar letras maiúsculas e minúsculas. Da mesma forma, ela frisa que no próprio material de divulgação da exposição “Transição: Expansão” a palavra transição está cortada, o que representa um novo momento em sua jornada artística e pessoal, em que a transição dá espaço para a expansão.
Jornada marcada pelo ativismo
Educada nos estudos feministas e praticante das ciências etnográficas, bruCa começou a se destacar na cena brasileira em 2024, quando lança, em Brasília, “Quando o Corpo se Torna Escultura”, com as primeiras obras dedicadas à despedida de seus seios.
Entre a urgência ativista e os processos investigativos, também em 2024 cria a escultura “Xixilindró”, que denuncia a criminalização dos corpos trans em banheiros públicos no país. “A Alegria da Mulher sem Tetas” é uma série feita com as tapes utilizadas nos seis meses antes da mamoplastia.
A CURADORA
Curadora, artista, gestora e pesquisadora, a catarinense Fran Favero é colega de bruCa no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UnB, na linha de Arte e Tecnologia. Mestra em Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação da Udesc, atualmente é diretora do Museu Nacional da República, em Brasília. Entre suas curadorias mais recentes estão “Mulheres Artistas: Acervo em Expansão”.
PARA VISITAR
Quando: de 12 de agosto a 2 de setembro de 2025 (de segunda à sexta, das 12h às 18h)
Onde: Memorial Meyer Filho (praça 15 de Novembro, 180, Centro, Florianópolis)
Realização: Instituto Meyer Filho e Projeto Integrado DAV/Ceart/Udesc.
Apoio: Banco do Brasil, Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e Prefeitura de Florianópolis.
Organização: PRAPEGs Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais DAV/Ceart/Udesc
Oficina “Fabulações e Futuridades”
Enquanto prepara a exposição, bruCa TeiXeira realiza a oficina “Fabulações e Futuridades: Imaginários Cuir em Videoarte, IA e Animação”, em que desafia os participantes a imaginar futuros que escapem à lógica binária, ao pensamento colonial e à ecologia linear, a partir da criação de vídeos curtos, experimentações com animação e manipulação de imagens por IA.
“Partimos de pesquisas e obras que nos mostram como temas-chave das artes visuais podem ser reimaginados, desde o ponto de vista LGBTI+ (a exemplo de forma, materialidade, representação); e como as posições transgêneras e não-binária nos convidam a olhar para esses termos de forma diferente”, explica.