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Compulsão sexual e pornografia: entre diagnósticos, tabus e saúde mental

Psicóloga Graziele Zwielewski comenta os desafios clínicos e sociais do comportamento sexual compulsivo

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A compulsão sexual e o uso problemático da pornografia seguem sendo temas cercados de controvérsias na saúde mental. Segundo a psicóloga Graziele Zwielewski, os próprios manuais de diagnóstico, como o DSM-5 e o CID-11, divergem sobre como classificar o Comportamento Sexual Compulsivo (CSBD). Enquanto o CID-11 reconhece o CSBD como um transtorno de controle dos impulsos, o DSM-5 optou por não o incluir como categoria diagnóstica, alegando falta de evidências científicas suficientes.

“Essa divergência mostra que a própria ciência ainda enfrenta desafios para compreender esse tipo de comportamento. Mas isso não impede que possamos oferecer acolhimento e tratamento adequado”, afirma Graziele. A psicóloga alerta para o risco de patologizar desejos sexuais acima da média apenas por questões morais ou sociais, e para o perigo de negligenciar comportamentos que causam sofrimento e prejuízos à vida da pessoa.

A profissional destaca que entre os sinais mais comuns da compulsão sexual estão a sensação de perda de controle, sentimento de culpa após gratificação sexual, prejuízos funcionais em áreas como trabalho, vida social e relacionamentos, além da persistência do comportamento mesmo diante de consequências negativas.

Já a pornografia aparece como um dos principais canais de manifestação do Comportamento Sexual Compulsivo. “Cerca de 80% dos pacientes com compulsão sexual relatam uso frequente de pornografia. Mas é importante lembrar que nem todo consumo elevado de conteúdo erótico é indicativo de transtorno”, explica a psicóloga. Em muitos casos, o acesso fácil e rápido ao sexo virtual pode funcionar como uma válvula de escape emocional, especialmente em pessoas com dificuldade de regulação emocional.

Graziele salienta que embora não haja consenso científico sobre a dependência de pornografia, estudos indicam que o uso excessivo pode afetar a função sexual, reduzir a capacidade de fantasiar espontaneamente e aumentar a necessidade de estímulos intensos para alcançar excitação. Os impactos incluem problemas de sono, absenteísmo, dificuldades em relacionamentos e ansiedade de desempenho sexual.

“É como assistir a um filme de super-herói: sabemos que não podemos reproduzir o que vemos. O problema surge quando a fantasia se confunde com a realidade, gerando frustrações e distorções sobre o corpo, o prazer e o consentimento”, destaca Graziele ao comentar sobre o consumo não saudável da pornografia.

Fatores psicológicos como ansiedade, depressão, solidão e tédio estão frequentemente associados ao CSBD. Estudos também apontam que estilos de apego inseguros, que são formados a partir da qualidade dos vínculos afetivos na infância, aumentam a vulnerabilidade ao comportamento compulsivo e ao uso problemático da pornografia.

Compulsão em números

O Comportamento Sexual Compulsivo costuma aparecer em comorbidade com outros transtornos mentais: 46% dos casos envolvem ansiedade, 39% transtornos do humor, 18% TDAH, e 46% uso de substâncias como álcool e drogas. Há também correlação com histórico de abuso infantil e transtornos parafílicos.

“A compulsão sexual pode afetar profundamente a qualidade de vida e os relacionamentos. Ela dificulta a construção de vínculos íntimos, gera problemas de comunicação e confiança, aumenta o risco de infecções sexualmente transmissíveis e, em casos extremos, pode levar a comportamentos ilícitos”, alerta a psicóloga.

A culpa e a vergonha, segundo a profissional, são barreiras importantes para quem busca ajuda. “Esses sentimentos, embora freiem o comportamento por um tempo, acabam gerando angústia e desregulação emocional, que funcionam como gatilhos para a repetição do comportamento compulsivo”, compartilha.

Por fim, Graziele destaca que o tabu em torno da sexualidade ainda é um dos maiores obstáculos para o diagnóstico e o tratamento. “O julgamento moral, a vergonha e os valores culturais que estigmatizam práticas como a masturbação ou o consumo de conteúdo erótico afastam as pessoas da possibilidade de cuidado. É preciso diferenciar moralidade de saúde mental”, completa a psicóloga.

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