Priorize a amamentação: crie sistemas de apoio sustentáveis”. Com esta mensagem, profissionais e pacientes dos hospitais da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) participam do Agosto Dourado – a campanha nacional de incentivo ao aleitamento materno – deste ano. A ideia é promover, apoiar e proteger a amamentação como uma prática importante para o meio ambiente, contando com uma rede de suporte que envolva as equipes de saúde, as famílias, o governo e a sociedade como um todo.
Taís Horácio e Luiz Fernando Nascimento são os pais de Maia, que nasceu no final de julho no Hucam-Ufes. Eles afirmam que contam com o apoio da equipe do hospital e da família para esta prática saudável e se sentem tranquilos por isso. “Eu sei que tem o Banco de Leite, se necessário, e recebi toda a informação para a amamentação da Maia”, disse Taís, ao lado de Luiz Fernando, que faz questão de ressaltar a importância de participar deste processo e, para isso, conta com o aprendizado que recebeu no hospital.
A coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes), Mônica Barros de Pontes, explicou que o tema da campanha deste ano chama a atenção para a necessidade de ações contínuas e inclusivas que garanta o apoio necessário para iniciar o aleitamento com sucesso. “Priorizar a amamentação significa reconhecer que amamentar não é apenas uma escolha individual, mas sim uma prática que precisa ser protegida, promovida e apoiada por toda a sociedade”, explica.
Inclusão
A enfermeira do Centro de Incentivo ao Aleitamento Materno do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), Isabel Maliska, explicou que o aleitamento materno é um tema dinâmico, com atualização constante, inclusive para acompanhar as mudanças na sociedade. “Posso citar como exemplo as famílias trans ou homoafetivas, em que a amamentação pode e deve ser pensada e incentivada, ou caso de pessoas vulneráveis e com alguma deficiência”, disse.
Segundo ela, a amamentação deve ser vista como um conhecimento a ser compartilhado por toda equipe, cada um dentro de seu papel de atuação. “Esta prática pode fazer a diferença entre a vida e a morte, a saúde e a doença da vida mais tenra à adulta, pode resultar em melhor qualidade de vida, melhor desenvolvimento cognitivo, trazendo benefícios individuais, familiares e para toda a sociedade”, resumiu Isabel Maliska.
Um exemplo é o garçom Lucas Leonardo, 27 anos, homem trans que procurou os serviços da Maternidade Escola do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CH-UFRJ-Ebserh). Casado há quatro anos com Vinicius Graciano, Lucas recebia atendimento ginecológico na Unidade Básica de Saúde e foi encaminhado para o hospital universitário, tornando-se pai parturiente de Maria Cecília, hoje com oito meses. “Pensei muitas vezes em desistir, mas sabia que amamentar era importante para minha filha, então não desisti. O mais importante foi saber que eu podia pedir ajuda sempre que precisasse, e isso fez toda a diferença para eu não me sentir sozinho nessa jornada”, relatou.
Como Lucas, toda pessoa que amamenta encontra este sistema de apoio na Maternidade Escola, que é Hospital Amigo da Criança e tem uma equipe especializada para dar proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno, de acordo com a chefe da Unidade da Saúde da Criança e Adolescente e presidente do Comitê de Alimentação do CH-UFRJ, Sandra Valesca Sousa. “Além do acompanhamento diário e testes necessários, as pacientes são orientadas a procurar nossa sala de amamentação se precisarem de apoio após a alta”, afirmou.
Rede de apoio
Sandra Valesca explica que o pai não é considerado rede de apoio. “Ele tem, basicamente, todas as responsabilidades, cuidados e afetividade tanto quanto a mãe”. Segundo a enfermeira, dentro do contexto da literatura, rede de apoio inclui avós, amigos, qualquer pessoa que possa apoiar a mulher a amamentar, seja com orientações, acolhimento ou ajuda nos afazeres domésticos. Neiva Brandão, presidente da Comissão de Incentivo e Apoio ao Aleitamento Materno e responsável pela assistência no Banco de Leite do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), acrescentou que “a família é o primeiro e mais constante ponto de suporte para a mãe e o bebê, tanto emocional quanto prático”.
Sustentabilidade
A médica do Banco de Leite e membro da Comissão de Incentivo ao Aleitamento Materno da Maternidade Climério de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia (MCO-UFBA), Alena Maria Barreto Jardim, explica que, além do incentivo à rede de suporte, a campanha do Agosto Dourado 2025 tem como foco a sustentabilidade. “Por ser um alimento natural, renovável, com produção sem impactos ambientais e sem poluições, o leite humano contribui para proteção do meio ambiente. Ele já vem protegido e ‘pronto para uso’. Tem produto mais sustentável que esse?”, questiona, respondendo.
Segundo ela, apesar disso, amamentar nem sempre é fácil ou intuitivo, como se pensa. “As dificuldades e os desafios existem. É preciso criar um ambiente propício e que ofereça suporte às pessoas que amamentam, ajudando-as a superar as dificuldades que surjam, para que a amamentação dê certo”, explica.
Especialista defende ações contínuas
Profissionais da Ebserh dedicados à amamentação destacam que a construção desta rede de apoio e o estabelecimento de políticas voltadas para a defesa do aleitamento precisam de um treinamento constante e da conscientização da população. “Essa conscientização de todos os envolvidos exige um engajamento durante todo o ano e não apenas nas campanhas”, reforça a pediatra e coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Professor Alberto Antunes, da Universidade Federal de Alagoas (HUPAA-Ufpal), Maristela Honório de Oliveira.
“É preciso divulgar e sensibilizar sociedade civil, profissionais de saúde e gestores públicos sobre a relevância de reconhecer e apoiar o aleitamento materno como estratégia de saúde pública de maior impacto e custo-benefício no combate à mortalidade infantil, mudanças climáticas e desigualdades sociais”, acrescenta a coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), Edilene Villalba.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.