Dentre as centenas de apresentações no Festival Escolar da Canção, promovido pela Secretaria de Educação de Florianópolis, uma em específico chamou a atenção não só pelo talento vocal. Aleph Serralheiro Arceno destacou-se por ser o intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) de sua prima Júlia Jorge de Souza, que cantou “Um mundo bem melhor” – versão brasileira de “We are the world” – na Final do evento, que aconteceu no domingo, dia 30. A dupla ficou em 1º lugar na categoria Pimpolho, empatados com Nawton Gilvane Bastos, da EBM Antônio Paschoal Apóstolo.
“Eu fiquei muito feliz com o convite do Festival da Canção porque eu gosto muito de interpretar música e mostrar para as pessoas o que eu sei na área de Libras”.
Aleph, 12, é estudante do 7º ano da Escola do Futuro da Tapera e faz parte do Clube de Libras da unidade desde o ano passado, como projeto de contraturno. Ele conheceu a professora de Libras Michele Dias no início de 2023, frequentando o curso noturno de língua brasileira de sinais acompanhando sua mãe Winnie. O menino já fazia parte também das aulas de tradução da professora intérprete Juliana Sousa Pereira, que iniciou o processo musical com ele. “O Aleph sempre se notabilizava pela maneira leve que fazia suas interpretações”, conta Michele.
Incentivado pela professora, o garoto começou a interpretar as canções junto ao Clube de Música. Em 2024, após não se classificar para a etapa regional do festival com a antiga dupla, Aleph formou uma nova parceria para a competição com sua prima Júlia, do 5º ano. “Foi a segunda vez que eu cantei no festival e agora eu tive minha voz interpretada em línguas pelo Aleph. Isso foi muito legal, muito emocionante!”, disse Júlia. Aleph também se mostrou muito feliz em compartilhar o palco com a prima. “Foi uma experiência maravilhosa estar com a Júlia no Festival da Canção”.
Ainda de acordo com a professora Michele, o menino tem muita facilidade em aprender os sinais entende a importância da expressão corporal neste tipo de comunicação. “Ele já tem esse ‘gingado’ e nós trabalhamos bem isso. Ele também sabe o quão importante é a expressão corporal e facial quando se vai interpretar uma música ou qualquer coisa em Libras”.
Além dos ensaios para o Festival Escolar da Canção, Aleph também treinou outras músicas para o Seminário de Educação Inclusiva e para a Festa da Família ao mesmo tempo. A rotina puxada quase o fez desistir. “Ele estava bem cansado, bem puxado, quase desistiu, mas eu o incentivei bastante porque é sempre assim, né? Quando ele aparece, ele dá um show!”.
Aleph e Júlia planejam se inscrever no Festival Escolar da Canção novamente no ano que vem, mas por enquanto, ainda estão saboreando o gosto da vitória. “fazer dupla com a Júlia e ganhar foi muito legal!”, disse Aleph. “Foi muito gratificante ficar em primeiro lugar este ano porque tinham muitas crianças talentosas, e isso me deixou ainda mais confiante e alegre com o resultado”, completou Júlia.
De onde vem o nome Aleph?
A mãe Winnie conta que sonhou com o nome na semana em que descobriu estar grávida. “Achava que era o nome de um anjo, mas fui pesquisar e é a primeira letra do alfabeto hebraico”. Aleph também significa força, poder e liderança.
O menino é o caçula de outras três irmãs. Na época, a mãe tinha 37 anos e as filhas 14, 12 e 7 anos de idade. Doze anos depois, vivem no bairro Tapera apenas ele e Winnie, mãe solo e professora da rede desde 2010 como ACT e efetiva no Neim Caetana Marcelia Dias desde 2015.
Quanto à língua de sinais, mãe e filho conversam bastante em casa para facilitar a aprendizagem. “Eu também tenho conhecimento de Libras, mas ele tem mais facilidade em lembrar detalhes dos sinais. Ele até me corrige quando faço algo errado”, conta Winnie. “Quando ele tem uma música para interpretar eu consigo ajudar também”.
“Ele até já me disse que quer fazer o curso técnico de tradução e interpretação de Libras/Português no IFSC e depois, no ensino superior, estudar Letras Libras na federal (UFSC)”.
Escola do Futuro da Tapera
Na Escola do Futuro da Tapera, todos do ensino fundamental podem aprender a Língua Brasileira de Sinais. Como componente curricular obrigatório, é oferecida a 140 estudantes do primeiro ao quinto ano. Para os anos finais, o Clube de Libras funciona como atividade complementar no contraturno para 280 integrantes.
Além disso, a professora Michele Dias criou o projeto Libras Mídias, também no contraturno, para trabalhar a produção de materiais didáticos bilíngues ( Libras/português) de maneira digital. Os materiais já produzidos são divulgados semanalmente no Instagram do projeto, https://www.instagram.com/libras.midias/.