Valorizar a produção artística de Florianópolis e dar visibilidade a narrativas e olhares singulares. Essa é a essência do projeto “mundo caduco”, primeira exposição individual do fotógrafo e artista visual negro florianopolitano Maurício Garcias. A partir dela, o artista busca compartilhar suas reflexões sobre o tempo, a memória e os aspectos do cotidiano urbano na cidade, que o provocam há mais de 10 anos, quando começou a fotografar as “cenas da rua”, como ele mesmo se refere. De 4 a 31 de julho, a mostra ficará em cartaz no Memorial Meyer Filho. A visitação é gratuita.
Maurício conta que o interesse por capturar as cenas do cotidiano das ruas surgiu de suas inquietações. Ele observou, desde cedo, que Florianópolis está mais acostumada a ter registros de belas paisagens, mas nem tanto das dualidades que se apresentam no dia a dia das pessoas que trabalham nas ruas da capital catarinense. “É muito comum as pessoas viverem pautadas pelo individualismo que é especialmente contraditório em relação aos corpos e subjetividades da classe trabalhadora brasileira”, reflete. “Uma classe viva, de carne e osso, marcada por multiplicidades de gênero, sexualidade, raça, etnia, corporeidade e cultura, mas frequentemente reduzida a uma massa amorfa e homogeneizada”, afirma.
Sob esse olhar crítico e intenso, o artista atravessa a cidade como quem tenta decifrar seus próprios vestígios. Afinal, ele é tanto o agente que registra quanto a figura capturada; tanto o crítico quanto o afetado. É a partir desse lugar contraditório que surge o convite para o espectador também se questionar.
Segundo Lívia de Pelegrin, mulher negra periférica curadora desta exposição, a inquietação sugerida em “mundo caduco” vem a partir da intenção do público reconhecer, nas fissuras das imagens, as próprias cicatrizes. “A proposta é sugerir que, mesmo no colapso e ainda que caduco, este mundo não está isento de ser confrontado”, observa Lívia.
Foi ela, inclusive, quem incentivou o fotógrafo e artista a realizar essa exposição. O trabalho e o olhar da curadora acrescentam uma perspectiva crítica e contextualizam o trabalho de Maurício no cenário da arte contemporânea com questões sociais urgentes que permeiam Florianópolis.
Mundo caduco
O poema “Elegia” (1938), de Carlos Drummond de Andrade, foi que inspirou o nome do projeto. “Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo…”. É assim que começa o poema, que segue com esse tom crítico do dia a dia de uma pessoa trabalhadora. Não por acaso, o “mundo caduco” de Maurício propõe criar e fortalecer um espaço cultural inclusivo e acessível em Florianópolis.
“Estamos engajados em promover essa diversidade cultural e social, fortalecendo a presença de artistas negros na cena cultural catarinense, referência que ainda falta na cidade”, reforça Maurício.
Para demonstrar que a fotografia pode ser mais acessível em questões de suporte dentro do mundo da arte, as obras ficarão expostas em formato de lambe (papel e cola) “A ideia, também, é sugerir um diálogo com elas e o contexto urbano da rua no seu estado mais bruto”, conta Maurício, que demorou para se reconhecer como artista visual por não ter referências de fotógrafos negros em Florianópolis.
Além da exposição, o projeto também prevê ações educativas inclusivas, com oficinas de fotografia para jovens e adultos. A intenção é fomentar o desenvolvimento de habilidades criativas e técnicas, além de fortalecer a autoestima e o sentimento de pertencimento cultural.
O “mundo caduco” também cria uma experiência inclusiva para pessoas neurodivergentes, que poderão contar com monitores capacitados a orientá-las da melhor maneira durante as visitas. De acordo com Lívia, a ação é fundamental para garantir uma experiência acolhedora e adaptada às diferentes necessidades do público.
A exposição “mundo caduco” abre no dia 4 de julho e a visitação, gratuita, será até o dia 31 do mesmo mês, sempre do meio-dia às 18h, no Memorial Meyer Filho, no Centro de Florianópolis. Proposta executada pelo Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Política Nacional Aldir Blanc. A produção executiva é da MAF Economia Criativa.
SERVIÇO
O que: exposição fotográfica “mundo caduco” de Maurício Garcias
Quando: de 4 a 31 de julho de 2025
Onde: Memorial Meyer Filho – Praça XV de Novembro, 180 – Centro, Florianópolis – SC, 88010-400
Horário de visitação: das 12h às 18h
Entrada: Gratuita