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Menina de 14 anos, estudante da RME de Florianópolis, é destaque das batalhas de rap da Capital

“Eu cresci longe do meu irmão, afinal ele é filho só do meu pai, e morava em São Paulo com a mãe dele. Quando ele tinha 12 anos, veio morar com a gente, e começou a participar de batalhas de rima. Eu, muito curiosa, sempre pedia pra ele rimar pra mim, e quando podia eu ia assistir ele. Tempos depois ele parou de rimar, mas eu continuei com a paixão, sempre tentando fazer ele se orgulhar de mim.”

E foi assim que Marina, à época com 3 anos de idade, começou a se interessar pelas rimas, poesia e hip-hop. Hoje, com 14 anos, ela continua se aventurando na música, utilizando-se do seu talento e da sua percepção de mundo para fazer críticas ao sistema de forma artística.

Marina Cordeiro, nascida no Hospital Universitário da UFSC em 4 de dezembro de 2008, é moradora do Ribeirão da Ilha e estudante da rede municipal de ensino de Florianópolis na Escola do Futuro Tapera, também tendo frequentado o Núcleo de Educação Infantil Maria Nair no Rio Tavares, quando mais nova.

“Não sou só rap, sou artista”. Marina é percussionista há 7 anos e também sabe atuar, desenhar e fazer graffit.

A mãe, Simone Mirian Cordeiro (46), criou as duas filhas sozinha, Marina e Júlia (21). Vitor (23) é irmão de Marina por parte do pai, Rogério Conde da Silva (44), e morou pouco tempo com elas enquanto permaneceu na capital catarinense.

VERSO A VERSO

Marina começou a escrever poesias em 2019 sem pensar muito, apenas vendo algo que chamasse sua atenção e o representando na forma de poema. Atualmente, ela fala muito sobre suas vivências e frustrações, expondo os problemas da periferia e cobrando mudanças. As batalhas de rap vieram em 2021, quando se inscreveu, sem muitas pretensões, para a Batalha da Alfândega, que estava acontecendo pela internet por conta da pandemia da Covid-19.

Para isso, ela precisava de um nome artístico. Por coincidência, muitos conteúdos sobre o planeta Vênus estavam aparecendo em suas redes sociais e daí o nome veio: *Vennus*. Mais tarde, sua identidade artística se ressignificaria, passando a remeter à deusa da mitologia romana Vênus, deusa do amor e da beleza, também prestigiada pelo seu conhecimento.

“Funcionava da seguinte forma: havia um sorteio de Mcs pelo Instagram. Depois, os sorteados, que geralmente eram oito, iam até um estúdio e batalhavam normalmente, mas sem plateia, pois o público assistia e votava através de uma live do Youtube, por conta da pandemia. Eu acabei me inscrevendo para um desses sorteios, acreditando que era quase impossível entrar! Porém a batalha tinha uma regra (que eu não sabia): duas vagas eram exclusivas para Mcs mulheres. Como só eu e a Sofia nos inscrevemos, as duas entraram para chave sem dificuldades”.

Marina (Vennus) terminou em segundo lugar nessa competição, a primeira da sua vida, e logo em uma das batalhas mais famosas da cidade. Sofia, ou Sofia Mc, virou uma de suas melhores amigas e referência local, assim como Travis, Dre, XNK, Lunelli, Manjami e P3X. “Há irmandade entre as batalhas, mcs e público” – pontuou a jovem rapper. Seus artistas preferidos e suas inspirações são Racionais, Sabotage, Pecaos, Baco Exu, Djonga, Mc Luanna, entre outros.

Vennus já perdeu as contas de quantas composições fez e de quantas batalhas participou, mas lembra com carinho da vez que declamou poesias na Assembleia Legislativa junto com o Slam Cruz e Sousa, no aniversário da morte de Antonieta de Barros. Também participou do Arvo Festival com seu bloco percussivo formado apenas por mulheres: “Cores de Aidê”. O evento musical celebra a “mistura” e as culturas do Brasil.

COM O LÁPIS NA MÃO E O MUNDO NA CABEÇA

Na Escola do Futuro Tapera, o apoio de professores e amigos incentiva Marina a crescer cada vez mais na cena do rap e das poesias. Os colegas se mostram interessados pela cultura e entretenimento trazidos por ela ao bairro. Além disso, a rapper diz que a arte é algo que facilita seu aprendizado na escola e na vida.

“Existem muitas pessoas inteligentes nas batalhas de rima, mas que não recebem reconhecimento por não terem terminado a escola, por falta de oportunidade. Ali eu aprendo diversas coisas, num conceito de vida mesmo, que ajudam no meu desempenho escolar. Quem frequenta batalha não é burro, nem vagabundo. Muitas vezes só não teve oportunidade mesmo”.

Segundo Marina, seu constante aprendizado sobre a sociedade por meio da arte a ajudam muito em geografia e história, e as poesias rendem um grande conhecimento de língua portuguesa.

Fora do ambiente escolar, ela organiza o “Movimento Mangrove”, projeto que busca levar a cultura da rua (rap, hip-hop, samba, funk…) para a Tapera. Também participa do já mencionado “Cores de Aidê”, bloco percussivo formado apenas por mulheres. “A intenção do bloco é mostrar que a música também é para nós, é feita por nós, encorajando mulheres a se mostrarem mais fortes”.

Seu papel na luta por igualdade também é visto dentro do mundo do rap, onde Marina relata ser um ambiente ainda com muita discriminação.

“É muito difícil ser mulher na cena, que acaba sendo machista, por mais que haja tentativa de mudança. Nós mulheres temos que correr o triplo para conseguir reconhecimento no hip-hop”.

SONHAR, CONQUISTAR, CONSEGUIR

Marina sempre reconheceu o esforço da mãe para criar sozinha ela e a irmã. Por isso, seu maior desejo é dar uma casa para Dona Simone, como forma de agradecimento por tudo que ela já fez pelas filhas.

Além disso, Marina quer mostrar suas histórias e vivências para o mundo. Até já compôs algumas músicas, e espera poder gravá-las um dia.

“Quero mostrar tudo que a quebrada vivencia diariamente… Aquilo que a mídia não mostra”.

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