Que Florianópolis é uma cidade inspiradora, todos concordam. Falar da beleza das praias, ribeirões e matas é “chover no molhado”. Mas, como cada pessoa é tocada pelas características da ilha? Aos 50 anos de idade, um profissional da área da computação resolveu deixar seu ramo de trabalho e tentar a vida em um segmento totalmente diferente, o artesanato. Sobre a ilha, é bom frisar.
Nascido no interior de São Paulo, José Eduardo Mariano tem a sensibilidade aguçada desde a infância, e não se deixa se surpreender com o que vê em Floripa. “Conheci a cidade no final da década de 1980, já estou morando aqui há quase 10 anos, e sempre fico deslumbrado com cenas que vejo no dia a dia”, diz Eduardo.
Com formação superior e atuação na área de tecnologia há três décadas, durante a pandemia Eduardo resolveu intensificar os estudos de técnicas de produção de cerâmica com argila e porcelana, e o histórico da cultura açoriana em Florianópolis. Foi um caminho sem volta: Eduardo deixou a informática e montou seu estúdio. “Desde a adolescência estou no meio das artes, fiz muito grafite, desenhos em camisetas e trabalhei com exposições esculpindo madeira. Há nove anos conheci a cerâmica, e busquei me aprofundar na tradicional açoriana. Acho que minha busca por Floripa tem tudo a ver com essa curiosidade e apreço por esse tipo de arte, característico daqui. Chegou um momento
em que eu tinha necessidade de produzir algo que expressasse o que vejo nessa cidade e nessa gente que me acolheu tão bem”, reflete.
Antes de se mudar para o Pico da Cruz, Eduardo morou no Ribeirão da Ilha e na Armação, bairros do sul da ilha que guardam características marcantes dos moradores nativos de Florianópolis. O nome de seu estúdio é uma homenagem ao local onde reside: o Pico da Cruz fica localizado entre as praias da Joaquina e do Campeche, e é um famoso ponto de surf. Segundo Eduardo, a rua onde mora é um “pacote completo” de Florianópolis. “No início da rua vemos as montanhas, e no final da trilha a praia, após passar por uma restinga bem conservada, cheia de pássaros, sons e pequenos animais”.
No estúdio, Eduardo produz cerâmicas de forma “quase 100% artesanal”, como faz questão de ressaltar. “O meu torno é elétrico”, assume, rindo. Algumas ferramentas em madeira e ferro, usadas no torno e para esculpir as peças, também são feitas manualmente pelo artesão. As caudas de baleia, os tentáculos de polvo e os corais vistos nas peças
são de uma riqueza de detalhes impressionante. A esmaltação (pintura) também é realizada da maneira mais rústica possível. “Gosto de utilizar jateamento, fazer fusão de pigmentos e uso bastante pintura com pincel”, esclarece.
José Eduardo está finalizando a produção de sua terceira coleção, e o lançamento acontece nessa sexta-feira (25) pelo site do Estúdio Pico da Cruz (picodacruz.com.br [1]) e redes sociais (@estudiopicodacruz [2]). “Espero que os moradores gostem e se identifiquem com as peças. A ideia é ter sempre que possível, ao alcance das mãos, um pouco da magia da ilha”, finaliza o artista.