O aumento nos casos de dengue, em todo o país, tem exigido que a população redobre a proteção contra a picada do Aedes Aegypti, o mosquito responsável pela transmissão do vírus da doença e também da chikungunya, zika e febre amarela urbana. A professora dos cursos de Farmácia, Biomedicina e Engenharia Química na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a química Gizelle Inácio Almerindo, esclarece os principais pontos a serem observados pelo consumidor que busca um repelente eficiente para afastar o inseto.
Na hora de selecionar um produto, segundo a especialista, o primeiro ponto a ser observado é se o item é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Para fazer isso, o consumidor deve acessar o serviço de consulta de produtos regularizados da Anvisa, disponível na página oficial do órgão. O consumidor deverá iniciar a busca pelo ícone “cosméticos” e, a seguir, basta preencher alguns dados como o nome do produto, CNPJ da empresa e código do processo, informados pelo fabricante na embalagem.
“Após constatar que o item está regulamentado pela Anvisa, é necessário checar no rótulo do repelente, se ele é próprio para proteger contra a picada do Aedes Aegypti. Há somente três princípios ativos, regulamentados pela Anvisa, que são recomendados para afastar esta espécie.”
De acordo com a docente da Univali, ao ler o rótulo o consumidor precisa identificar um dos seguintes itens na composição do repelente: DEET (diethyl toluamide ou N, N-dietil-meta-toluamida ou N,N-Dietil-3-metilbenzamida), Icaridina (Hydroxyethyl isobutyl piperidine carboxylate ou Picaridin) ou IR3535 ou EBAAP (Ethyl butylacetylaminopropionate).
“Qualquer um desses itens presentes na composição do repelente, já indica que ele serve para afastar o mosquito da dengue. Lembrando que o produto apenas afasta o mosquito, ou seja, ele não tem a função de matar o inseto. Então, os demais cuidados para combater a reprodução do vetor da doença precisa ser mantido pela população, indiferente de fazer uso de repelente.”, reforça Almerindo.
A professora também alerta para a importância de seguir corretamente as dicas de utilização apontadas pelo fabricante do produto, para garantir a efetividade e a segurança do usuário.
“O rótulo vai trazer orientações sobre a reaplicação do cosmético, que varia de um produto para outro, conforme a concentração do princípio ativo presente em cada fórmula. Se uma pessoa passar mais vezes que o indicado na embalagem, por exemplo, ela corre o risco de sofrer uma intoxicação. Então, antes de fazer o uso do repelente, é muito importante ler com atenção as instruções de uso.”
Proteção durante o dia
Como o Aedes Aegypti tem hábitos diurnos, a especialista ressalta a importância de manter a proteção principalmente ao longo do dia. “Ele é um inseto oportunista, então, nada impede que ele pique durante à noite também, embora este seja um comportamento mais comum aos pernilongos. A recomendação geral é manter a atenção e aplicar o repelente, sobretudo, nas regiões inferiores, como pés e tornozelos, já que este inseto costuma voar baixo.”, observa a química.
Uso em crianças e gestantes
Outro cuidado durante a aplicação de repelentes, segundo a especialista, é evitar espalhar o produto próximo às áreas com mucosas, tais como a dos olhos, boca e nariz. No caso das crianças, em especial, também não é indicado passar nas mãos, para evitar que levem o membro, com o produto, à boca.
“Para os pequenos, a dica é que os pais procurem no rótulo do repelente palavras como “infantil”, “baby”, “kids”, que são os cosméticos seguros para esta faixa etária. Não pode aplicar os mesmos produtos feitos para os adultos, pois há princípios ativos que não são indicados para crianças, por exemplo, o DEET não é permitido para crianças que têm menos de dois anos de idade.”
Os ingredientes presentes nos repelentes de adultos, também podem ser utilizados pelas gestantes, segundo Almerindo. “Do mesmo modo, elas precisam estar atentas à quantidade de aplicações indicadas pelos fabricantes e, no caso de apresentar algum tipo de alergia, a orientação é sempre procurar por auxílio médico. Isso vale para tanto para esse público, como também para os demais.”
Aerossóis
Com relação aos aerossóis e repelentes instalados em tomadas para afastar os insetos, a professora Gizelle reafirma a importância de verificar se há regulamentação pela Anvisa. Além disso, ao fazer uso destes recursos de proteção, o consumidor precisa manter os ambientes sempre ventilados e respeitar uma distância mínima de dois metros do local onde o produto foi aplicado. “Pessoas com asma ou algum tipo de alergia respiratória, precisam estar atentas ao fazer uso destas alternativas e consultar o médico para se certificar de que são produtos liberados para a sua condição de saúde.”, observa a professora.
Para garantir a segurança, a química chama a atenção para a importância de sempre optar por repelentes que possuam comprovação científica de efetividade contra os insetos.
“Itens como velas, incensos, aromatizantes de ambientes, receitas caseiras que circulam pela internet não oferecem garantia de proteção comprovada. Somente itens regulamentados pela Anvisa, quando utilizados conforme as instruções do fabricante, são realmente seguros e eficazes contra o mosquito. Inclusive, a exposição excessiva a certas substâncias, sem nenhum estudo comprovado, pode oferecer riscos à saúde das pessoas.”, assegura.