Foi espetáculo do começo ao fim. O Teatro Adolpho Mello, no Centro Histórico de São José, abriu suas portas na noite desta quarta-feira (26) para receber um público especial: filhos, netos, amigos e uma plateia inteira pronta para aplaudir de pé os verdadeiros protagonistas da noite — os participantes do Centro de Atenção à Terceira Idade (Cati). Em clima de festa, emoção e orgulho, o tradicional Show de Talentos marcou o encerramento das atividades de 2025 do serviço, que é referência no cuidado, convivência e valorização dos idosos do município.
Logo na abertura, o palco já deu o tom do que seria a noite: a presença da Cia Expressão Vital, grupo premiadíssimo de dança, arrancou suspiros e aplausos. Com direção da coreógrafa Geovana de Oliveira, o grupo apresentou uma belíssima performance que misturou elegância, técnica e amor pela arte.
A companhia coleciona prêmios importantes — como o 42º Festival de Dança de Joinville, no qual é tricampeã nacional na Dança de Salão 60+, o 1º Festival Nacional de Dança de Curitiba e o 23º Festival de Dança da Terceira Idade de Piratuba, onde é destaque todos os anos — e, desta vez, foi São José que teve o privilégio de recebê-los. Entre os dançarinos estava Arnildo Barossi, de 82 anos, que roubou a cena pela leveza e pela alegria.
“Dançar pra mim é continuar vivo, é provar todo dia que idade não é limite pra nada. Estar aqui, com esse teatro lotado, vendo tanta gente torcendo pela gente, é um presente. Enquanto eu tiver saúde, eu quero estar no palco, dançando e mostrando que a terceira idade também sabe brilhar”, contou Arnildo, emocionado, após deixar o palco sob muitos aplausos.
Do começo ao fim, o Teatro Adolpho Mello esteve lotado e vibrante. As cadeiras cheias, os corredores com gente em pé e celulares filmando cada passo ajudavam a construir um clima de torcida, de orgulho e de festa. “Eles já têm mais de 60 anos, mas surpreenderam o público como verdadeiras estrelas. O palco brilhou com eles”, resumiu uma das espectadoras ao fim de uma das apresentações de dança.
Entre as histórias que marcaram a noite, uma chamou atenção pelo encontro entre gerações e pelos laços familiares. Na plateia, o presidente da Escola de Samba Jardim das Palmeiras, Renn
an Inácio, assistia visivelmente emocionado à apresentação de funk no palco. A protagonista? Sua mãe, Maria Aparecida Inácio Rita, que se apresentou com o grupo de dança do Cati.
“Olha, não é pra qualquer um ter o orgulho de ver a mãe subir no palco e dançar funk desse jeito, segura, feliz, rodeada de amigas. Ela que tanto já me ensinou na vida ainda continua me motivando. Ver minha mãe aqui, arrasando, vivendo esse momento, me enche de orgulho e esperança. É uma cena que eu vou guardar pra sempre”, disse Rennan, ainda com os olhos marejados depois da apresentação.
Emoções
Ao longo da noite, o público foi brindado com diferentes performances: dança, teatro, canto solo, apresentações em grupo e momentos que misturaram humor, memória afetiva e muita emoção. Um dos pontos altos foi a apresentação de Jamil Antônio do Nascimento, que chegou ao palco um pouco tímido, quase se encolhendo diante das luzes e da atenção. Bastaram, porém, as primeiras notas da música “Cadeira de Rodas”, um dos grandes sucessos da década de 1970, para que ele se transformasse.
A plateia começou a aplaudir logo nos primeiros versos, e Jamil terminou sua performance sorrindo de ponta a ponta. “Eu nunca imaginei que, com a minha idade, ainda ia subir num palco desses, com teatro cheio, pra cantar uma música que fez parte da minha juventude. A vida já me deu muitos desafios, mas hoje ela me deu um presente. Pra mim, estar aqui é uma prova de que nunca é tarde pra recomeçar, pra se divertir, pra sentir orgulho de si mesmo. A gente envelhece no corpo, mas o coração, se a gente cuidar, continua jovem”, afirmou Jamil, já no camarim, segurando firme o microfone que simbolizou sua grande vitória da noite.
Quem também viveu um momento inesquecível foi João Nilton Camilo, que nesta semana completa 81 anos. Ele subiu ao palco para interpretar ninguém menos que Roberto Carlos e dedicou a apresentação à sua esposa, que o assistia da plateia. Com ternura no olhar e firmeza na voz, João cantou olhando diretamente para ela, arrancando suspiros e lágrimas discretas entre o público.
“Eu quis fazer essa homenagem porque ela esteve comigo em todos os momentos da vida: nos bons, nos difíceis, na saúde e na doença. Cantar pra ela aqui, com esse teatro lotado, foi a forma que encontrei de dizer ‘obrigado’ por tudo o que já vivemos juntos. Aos 81 anos, eu posso dizer que o amor ainda é o meu maior espetáculo”, declarou João Nilton, emocionado.
Atividades do Cati
Mais do que um show, o evento representou o fechamento simbólico de mais um ano intenso de atividades no Cati, que promove inclusão, socialização, atividades culturais e bem-estar para os idosos de São José. A secretária de Assistência Social, Rita Cassia Faversani Furtado, destacou a dimensão humana do trabalho realizado.
“O que a gente viu hoje aqui não foi só um espetáculo artístico. Foi o resultado de um trabalho diário de cuidado, de acolhimento, de reconstrução de histórias. O Cati é um espaço onde nossos idosos voltam a acreditar em si mesmos, criam laços, fazem amigos, redescobrem talentos. Ver esse teatro lotado, cheio de famílias aplaudindo, é a prova de que esse serviço transforma vidas e fortalece vínculos”, afirmou Rita.
A diretora do Cati, Karen Santos, reforçou que cada apresentação carrega por trás uma trajetória de esforço, superação e crescimento emocional. “Esse show é fruto de um trabalho do ano todo. Muitos chegam aqui envergonhados, tímidos, achando que não têm talento ou que já passou o tempo de aprender algo novo. Aos poucos, vão percebendo que a vida continua acontecendo, que eles podem dançar, cantar, atuar, fazer amigos, se divertir. É lindo ver o resgate da autoestima, a alegria de subir no palco e a emoção de serem aplaudidos por quem amam. É aí que moram as grandes lições que o Cati nos ensina todos os dias”.
Mesmo sem conseguir estar presente em função de agendas previamente assumidas, o prefeito Orvino Coelho de Ávila fez questão de comentar o trabalho realizado pelo Cati e sua importância social para o município. “Quando a gente vê um teatro lotado para aplaudir nossos idosos, vê muito mais do que um espetáculo: enxerga política pública dando certo. O Cati é um orgulho para São José porque mostra, na prática, que envelhecer pode ser sinônimo de convivência, aprendizado, cuidado e protagonismo. Investir nesse serviço é investir em respeito, em dignidade e em cidadania para quem já fez e continua fazendo tanto pela nossa cidade”.
Ao final da noite, entre abraços demorados, fotos no hall do teatro e comentários cheios de orgulho, uma certeza ecoava entre público, equipe e participantes: no palco, eles brilharam. E muito. O Show de Talentos do Cati não foi apenas o encerramento de um ano de atividades, mas a celebração de vidas inteiras que seguem em movimento, radiantes, provando que envelhecer também é sinônimo de protagonismo, afeto e potência.









